Dunga O técnico acidental

Os felizes acontecimentos do final de semana proporcionaram um ótimo assunto para desenvolver o tema do líder acidental – aquela pessoa que é alçada a uma posição de liderança de uma hora para outra, quase que acidentalmente.

Em Outliers/Fora-de-série, Malcolm Gladwell lembra que, além de uma inteligência superior e trabalho árduo, uma boa dose de sorte faz parte do currículo pessoal de grandes ícones do passado e do presente – de John D. Rockefeller a Bill Gates.

Muitas vezes os resultados aparecem por acaso. Tanto os bons quanto os ruins. Nestes, gostamos de apontar dedos quando os outros são os responsáveis, ou atribuí-los ao azar quando são nossos. Naqueles, contudo, desdenhamos do sucesso alheio, creditando-o à sorte, enquanto que enaltecemos nossos feitos e nos vangloriamos das vitórias, ainda que aleatórias.

Dunga

Dunga, o técnico acidental (Foto: Veja/Arquivo)

Quando Dunga teve seus primeiros tropeços, a falta de experiência era a causa. Já os triunfos iniciais eram obra do acaso, ou presente de um fraco adversário. Mas no último sábado (05/09/2009) o técnico dificultou a vida dos seus críticos.

A sólida vitória construída de forma convincente sobre nosso maior adversário do continente carimbou o passaporte da seleção brasileira para a Copa do Mundo de 2010, na África do Sul.

Numa batalha travada no palco decorado com as cores e humores do adversário, cercada de polêmicas preliminares e rivalidade histórica, o futebol pentacampeão mostrou insuperável solidez, inesperada inteligência e implacável eficácia. Uma equipe com a inconfundível marca do seu líder.

**********

O CEO da seleção brasileira assumiu seu cargo cercado de desconfiança. Jamais havia sequer treinado um time e assumia um posto para o qual, teoricamente, não havia sido preparado.

Mas há controvérsias. Dunga já era técnico dentro de campo. Já exercia liderança entre seus pares. Na linha de frente, já comandara equipes noutras ocasiões, entre alegrias e tristezas.

Da malfadada “era Dunga”, estigmatizada na figura do próprio em 1990 – derrotada pela mesma Argentina de Maradona -, à volta por cima no tetracampeonato de 1994, até um novo fracasso (?) em 1998, o então jogador simbolizou uma nem sempre vitoriosa geração de jogadores por mais de uma década.

Em meio à fogueira de vaidades e interesses de estrelas multimilionárias, o Dunga jogador representava o ponto-de-equilíbrio, o fiel da balança entre zagas vacilantes e goleadores formidáveis. A necessária segurança entre a paciência tática da defesa e a avassaladora criatividade de um ataque mortal.

Já a seleção idealizada pelo Dunga técnico combina o melhor goleiro do mundo guardando a chave do cofre; um zagueiro-capitão, tecnicamente limitado mas com coração de leão, à sua imagem e semelhança; um meia-atacante tão rápido com os pés quanto com a cabeça; um artilheiro fabuloso; e uma outra seleção de reservas que, por si só, já seria candidata a títulos.

Se Dunga jamais havia treinado um time, muitos treinadores (de sucesso, até) também nunca foram jogadores de futebol. Antes de comandar sua primeira empresa, um presidente também não sabe o que esperar do cargo – e nem o mundo sabe o que virá dali.

Mas Dunga viveu, por décadas, a rotina dos treinos, concentrações e jogos, em clubes e seleções. Encarando frente-a-frente seus adversários, viveu as dores e as delícias de representar a maior paixão nacional. Foi o símbolo de uma derrota e o coadjuvante de uma vitória. Experiências extremas que agora, três anos depois, formam um técnico em ascenção, embalado por dez vitórias seguidas e dezoito partidas invictas, líder do ranking mundial, classificado para a Copa do Mundo com três rodadas de antecedência.

E que agora está a menos de um ano de sagrar-se o terceiro atleta a consagrar-se campeão mundial como jogador e técnico – depois de Zagallo e Beckenbauer. Sem dúvida uma história inspiradora para muitos de nós que acabaram de chegar a uma posição de liderança e enfrentam, ainda, a desconfiança de um ambiente altamente competitivo.

Até a próxima, Rodolfo


Fonte/http://vocesa.abril.com.br/blog/rodolfo/2009/09/








O portal oferece um vasto material para estudos e seminários, Assine e fique informado!!!

Receba artigos por E-mail:




Você gostou deste artigo? Compartilhe:
TwitterDeliciousFacebookDiggStumbleuponFavoritesMore

0 comentários: