A cadeira no Brasil vale mais

O sonho dos executivos já não é mais trabalhar numa multinacional - a menos que ela seja verde e amarela.

 hoje, as empresas brasileiras pagam mais do que as rivais e atraem cada vez mais talentos, de todas as nacionalidades

Por Érica Polo
Até bem pouco tempo atrás, o sonho de todo executivo era ganhar um posto de comando em uma empresa multinacional. Era. O aquecimento da economia brasileira nos últimos anos deu maior poder de fogo às empresas nacionais para atrair profissionais cobiçados. 
Com pacotes mais agressivos, essas companhias tornaram-se competitivas e, hoje, muitos nomes no meio corporativo já fazem a rota inversa e trocam cargos de comando em multinacionais por posições de destaque em companhias verde-amarelas. 
 
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José Marino, da Natura, ex-Johnson & Johnson: "Deixei de ser apenas executor
para me transformar em um líder de negócios"
 
Foi assim com Mário Anseloni, que trocou a presidência da Hewlett Packard (HP) pela da Itautec, e com Alexandre Dias, que deixou o Google Brasil para comandar a Anhanguera Educacional. Ambos receberam propostas irrecusáveis.
 
Pesquisa da consultoria Towers Watson, obtida com exclusividade pela DINHEIRO, aponta que o pacote de remuneração oferecido a CEOs de empresas nacionais totalizou, em média, R$ 4,5 milhões em 2009. 
 
Enquanto isso, os presidentes de subsidiárias de multinacionais receberam R$ 2,5 milhões. E por que a cadeira de presidente vale mais no primeiro caso do que no segundo, se é ocupada pelo mesmo perfil de executivos? Parte da resposta é a posição hierárquica. “São funções diferentes. 
 
Um presidente de subsidiária de empresa estrangeira é responsável pela atuação no mercado local, mas pode ter três ou quatro níveis hierárquicos acima dele”, diz Christian Mattos, responsável pelo levantamento. 
 
É justamente o maior poder de decisão que, atrelado aos pacotes financeiros atraentes, tem contribuído para o movimento de migração para as corporações brasileiras. José Vicente Marino, por exemplo, deixou o posto de número um da Johnson & Johnson no Brasil, em 2008, para ocupar a vice-presidência da Natura. “Passei a fazer parte do núcleo mundial de decisões. Deixei de ser apenas executor para me tornar um líder de negócios”, justifica Marino.

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Entre os setores em que se viu uma migração mais forte estão o de tecnologia, açúcar e álcool; siderurgia, papel e celulose; cimento, transportes e cosméticos. São as áreas da economia que se destacaram recentemente, diz Rodrigo Araújo, sócio-diretor da recrutadora Korn/Ferry. 
 
A possibilidade de envolver-se em projetos de abertura de capital e trabalhar marcas brasileiras globalmente tem sido outro chamariz. “Os executivos têm orgulho de trabalhar por uma marca nacional”, diz Maria de Fátima Albuquerque, diretora de relações humanas da Totvs. 
 
A companhia lançou ações na Bovespa em 2006 e passou a oferecer incentivos de longo prazo. Esses benefícios, típicos das multinacionais, permitem que os principais executivos recebam ações e enriqueçam junto com a companhia se a estratégia der certo. “Há dez anos, quase nenhuma empresa brasileira tinha esse benefício. 
 
Hoje, um quarto delas o oferece”, diz Mattos. A Cosan, que abriu capital em 2005, também entrou nessa estatística. “Dois anos antes de ir à bolsa, elevamos os salários para o nível pago por empresas de telefonia para atrair profissionais com mais bagagem de mercado”, diz Luiz Carlos Veguin, diretor de recursos humanos da Cosan. 
 
Como nem todas as empresas brasileiras são listadas em bolsa, os bônus variáveis, atrelados a metas de curto prazo, também são parte importante da estratégia para roubar executivos de multinacionais. 
 
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Em 2009, o volume pago no Brasil em bônus pelo universo de empresas pesquisadas pela Towers Watson chegou a R$ 1,16 bilhão. Apenas 4,5% dos executivos não receberam o benefício. 
 
Foram ouvidas 314 companhias de 16 setores econômicos, com faturamento global de US$ 330 bilhões. Nos últimos cinco anos, a remuneração de executivos no Brasil teve ganho real anual de até 2%, mais a inflação. 
 
Dinheiro é bom, mas não é só isso que conta na hora de mudar de emprego. Em agosto, a diretora de marketing Carla Marchiori trocou a americana Accenture pela brasileira Inmetrics, em busca de maior autonomia e flexibilidade dos benefícios. 
 
“Numa multinacional, há excesso de burocracia para aprovar projetos", diz ela. A burocracia interna também foi fator decisivo para que José Roberto Campos, vice-presidente da área de computação da Itautec, deixasse de lado duas propostas estrangeiras. 
 
“Um dos processos tinha onze etapas. Lembrei de quanta energia precisava gastar para aprovar algo. É uma cultura desgastante”. Mesmo assim, as múltis não deixaram de ser atraentes – ao menos como um trampolim na carreira. “A chance de tornar-se um presidente regional só é oferecida pelas companhias estrangeiras”, lembra Renata Filippi, sócia da Mariaca/Intersearch. 
 Fonte - IstoE



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