GUSTAVO CERBASI: Estamos empobrecendo?

GUSTAVO CERBASI é consultor financeiro e escritor. Escreva para ele em www.maisdinheiro.com.br. Twitter @gcerbasi (Foto: Camila Fontana)
GUSTAVO CERBASI
é consultor financeiro e escritor. 
Os indicadores econômicos e sociais do Brasil apresentaram, nos últimos anos, saltos magníficos, com destaque para o aumento de renda, para o acesso ao crédito e para a queda na desigualdade. Vivemos um momento conhecido como bônus demográfico, quando boa parte da população está na fase produtiva de maior renda, antes de se tornar predominantemente idosa. É o momento ideal para formar poupança, investir em infraestrutura e criar mecanismos que darão sustentabilidade ao bem-estar da população adulta.
Infelizmente, estamos perdendo essa oportunidade. O nível de poupança no Brasil, em percentual do PIB, está estagnado há décadas. Optamos por aproveitar o momento para consumir. Pior: consumir sem consciência nem planejamento, já que o estímulo ao consumo levou a população à inadimplência.
Não é difícil entender a razão do desequilíbrio. Sedento por indicadores eleitoreiros, o governo vem adotando incontáveis medidas temporárias de incentivo ao consumo, como subsídios à casa própria, à compra de eletrodomésticos e de automóveis, antes de estimular uma educação financeira que permita à população planejar suas inéditas aquisições de alto valor. É como incentivar a venda de carros a quem não sabe dirigir.
Por acessar bens que nunca fizeram parte da realidade de suas famílias, a população de classe média não consegue antever as consequências desse consumo. Engessa o orçamento com prestações a pagar pelo automóvel, mas não planeja os gastos com combustível, multas etc.
Se a queda nos juros estimula a compra do bem, a falta de planejamento faz com que seu uso não caiba no orçamento, forçando a população a recorrer a linhas de crédito menos estruturadas, como cheque especial ou cartão de crédito. Isso explica a inadimplência na casa de 30% nas operações do cartão. Explica também a dificuldade que as administradoras têm para reduzir os juros de seus produtos, que tendem ao prejuízo.
O consumidor, que acreditava ter feito boas escolhas, sente dificuldade para manter o consumo tradicional, daí a queda na produção industrial por três meses seguidos. Enquanto a classe média não reavaliar suas escolhas e der um pequeno passo atrás no padrão de consumo, estará sem dinheiro para desfrutar seu estilo de vida. Se o momento for aproveitado para rever esses valores e estimular um consumo mais consciente, podemos chegar perto de encontrar um novo e definitivo padrão da classe média brasileira. Menos glamouroso do que ela sonhava, mas melhor e sustentável. Ainda dá tempo. 
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Gustavo Cerbasi (www.maisdinheiro.com.br) é consultor financeiro e autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Ed. Gente), Investimentos Inteligentes (Thomas Nelson Brasil) Filhos Inteligentes Enriquecem Sozinhos (Ed. Gente). Via ÉPOCA



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