Gastar demais pode ser tão ineficaz quanto planejar demais. Precisamos encontrar o equilíbrio em vários aspectos da vida
Não foi por acaso que o filme Até que a sorte nos separe
alcançou o topo das bilheterias nacionais em 2012. Desde as primeiras
conversas sobre o projeto, a proposta foi apenas uma: chegar ao maior
número de pessoas possível. Quando a produtora Paris Filmes me
apresentou a proposta de adaptar o livro Casais inteligentes enriquecem juntos,
a crença era que um livro de boa vendagem tinha boas chances de virar
um filme de boa bilheteria. Para uma empresa de distribuição de filmes,
essa é a essência do negócio. Para um profissional de educação
financeira, um filme sobre o assunto seria a oportunidade de levar bons
ensinamentos a um público muito maior.
O formato escolhido: comédia. Nada melhor do que satirizar e
caricaturizar os erros mais comuns que a maioria dos seres humanos
comete em relação ao dinheiro. Houve um consenso entre roteiristas,
produtores, diretor e palpitadores de que não seria possível tratar o
assunto dinheiro de outra maneira sem machucar o público espectador. Ao
tratar da história de um casal com problemas bem maiores que a maioria
dos brasileiros, a moral da história é recebida com um certo atenuador. A
mensagem para o espectador é que, se sua situação talvez não esteja
boa, pode piorar muito.
Leia também:
- FINANÇAS: COMO COMPRAR FELICIDADE - GUSTAVO CERBASI
- GUSTAVO CERBASI - COMO CONQUISTAR SUA LIBERDADE FINANCEIRA
- GUSTAVO CERBASI - 12 ERROS DE QUEM POUPA PARA A APOSENTADORIA
A maioria dos brasileiros está em situação financeira lamentável – mesmo que não reconheça isso. E eles ainda não estão preparados para receber sermões. Ter dívidas é a regra, não exceção. Estou me referindo a compromissos assumidos e que as pessoas terão dificuldades de honrar. Isso inclui despesas como o parcelamento da casa e do carro que, depois de consumir o orçamento, nos jogam compulsoriamente no cheque especial ou no limite do cartão de crédito. Para muita gente, sair do vermelho seria uma vitória. Mas não é, pois significa ainda estar bem aquém da poupança regular, que seria a situação normal de equilíbrio.
Todos os dias, especialistas repetem na mídia as regras para sair das dívidas e para enriquecer. Todos os anos, nesta época de fim de ano, transbordam orientações sobre como lidar com o 13º salário e evitar problemas para o ano seguinte. Mesmo assim, ano após ano, os brasileiros repetem o ciclo de contar com o 13º para quitar dívidas, consumir sem ter dinheiro no Natal, parcelar compras para o ano seguinte, ficar sem dinheiro para o consumo rotineiro, endividar-se – e então esperar o 13º novamente (do ano seguinte) para quitar o problema. O erro é evidente.
Não faltam boas lições. O que falta é a comunicação adequada. Quem sofre com o dinheiro curto não está preparado para receber um apanhado de regras racionais sobre como organizar sua vida. A maioria das pessoas toma decisões de maneira emocional, e não racional.
O papel de um filme é entreter. Ao tratar do assunto no filme por meio da comédia, o roteirista Paulo Cursino nos dá uma chacoalhada nas emoções. Na poltrona do cinema, o público é levado por um pêndulo de sentimentos entre situações ora emotivas, ora cômicas. Não importa qual dos sentimentos é mais impactante, mas sim que, de uma forma ou de outra, o público saia balançado. É esse impacto que fará cada espectador lembrar as lições do filme nas situações de vida que terá pela frente, quando sair da sala de exibição.
O personagem bilionário Tio Olavo, com seus 104 anos, deixa claro que dinheiro é importante, mas não é tudo. Ele traz algumas das lições mais importantes do roteiro. O grande ensinamento do filme é que precisamos encontrar o equilíbrio em vários aspectos da vida – o financeiro é apenas um deles. Com equilíbrio, enriquecer é bem mais fácil.
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