O que a convocação de Ronaldinho tem a ver com o mercado de ações?

Em sua primeira lista como técnico da seleção, Felipão apostou em "medalhões" para montar seu elenco - da mesma forma que muitos investidores elegem blue chips para compor seu portfólio

Ronaldinho Gaúcho voltará a vestir a camisa amarela da seleção brasileira. Incluído na primeira lista de convocação de Luiz Felipe Scolari, novo técnico da seleção, o meia-atacante do Atlético Mineiro é um dos veteranos que deverão participar do jogo contra a Inglaterra no dia 6 de fevereiro, junto com Júlio César, goleiro do Queen Park Rangers e titular da seleção durante a era Dunga, e Luis Fabiano, atacante do São Paulo e camisa 9 na última Copa do Mundo. 
O técnico optou por incluir jogadores veteranos, já conhecidos por ele e pelo público. Mas qual a relação desse fator com a bolsa de valores? É que assim como o treinador optou em ser conservador, há uma cultura no mercado acionário brasileiro de apostar mais em casos consagrados do que em novos talentos. "Há um comportamento bastante parecido, por conta mesmo da nascente cultura brasileira de renda variável", avalia Eduardo Machado, analista da Amaril Franklin. 


Ronaldinho foi a principal novidade da 1ª lista de Felipão (CBF)
Ronaldinho foi a principal novidade da 1ª lista de Felipão (CBF)

É válido destacar que Ronaldinho fez o necessário para vestir a amarelinha: foi eleito o melhor jogador do campeonato brasileiro de 2012 pela revista Placar, excetuando o atacante santista Neymar. Mas é um jogador que já está na sua fase final da carreira - com quase 33 anos -, e pouco deve contribuir para a seleção após a Copa do Mundo em 2014. Se continuar jogando o que joga, deverá ser útil - mas não seria melhor manter outros jogadores mais jovens jogando na posição, como o técnico Mano Menezes fazia anteriormente? 
Essa é uma situação análoga às empresas já grandes e consagradas: elas são boas empresas, mas possuem potencial de valorização às vezes bastante inferior aos das empresas small caps, ignoradas pelo mercado. "Há um conceito do leigo de que é válido investir apenas em empresas grandes, já que o risco de quebra seria muito menor do que empresas pequenas que ele não conhece. Só que isso não é uma verdade", afirma Machado. 
Chamar Ronaldinho é como comprar Ambev?Luis Gustavo Pereira, estrategista da Futura Investimentos, também vê essa associação: convocar Ronaldinho, atualmente aos 32 anos de idade, é como colocar a Ambev (AMBV4) em carteira - uma opção conservadora. "Ele possui a confiança do treinador para voltar a ter o futebol maravilhoso que a gente viu na época do Barcelona, do mesmo jeito que essa empresa tem a confiança do investidor", avalia.
O potencial para melhor, porém, é menor do que outros jogadores que atuam na mesma posição - ou de outras ações que estão BM&FBovespa. O meia-atacante provavelmente não deverá retornar aos níveis do Barcelona, enquanto a Ambev é uma empresa que opera, em termos relativos, muito mais cara do que outras - a ponto de se tornar a empresa mais valiosa do País.
Isso se justifica pelas suas características únicas: a Ambev é uma empresa que apresentou forte crescimento ao mesmo passo em que era defensiva - enquanto Ronaldinho é descrito como um talento único, considerado por muitos um dos grandes jogadores de futebol da história. Escalar Ambev ou Ronaldinho é apostar no conhecido. "E isso tem peso para o investidor, que prefere investir no que ele tem informações mais apuradas", afirma.
"E acho que os investidores, sim, procuram investir em empresas com prévio conhecimento, do que empresas novas que o mercado não tem tanta informação", salienta o estrategista. O tamanho influi em diversos outros aspectos que podem alterar a estratégia do investidor, como a liquidez e a facilidade de lançar derivativos, como opções sobre ações. 
Bolsa ainda está nas divisões de base
O cenário atual para o mercado de ações não é muito positivo. A bolsa cresceu nos anos anteriores à crise de 2008, mas com a chegada da crise muitos investidores acabaram deixando a renda variável, sobretudo aqueles que não tinham muito conhecimento. "E ainda hoje, o investidor prefere, nos primeiros contatos, investir em empresas grandes, conhecidas, e que seus conhecidos já tenham tido algum contato", afirma Machado. 
Isso expulsa a possibilidade de investimento em ativos novos - e torna o mercado nacional muito mais preto-e-branco, com Petrobras (PETR3PETR4) e Vale (VALE3VALE5) na frente. "O investidor novo não entende que empresas que são novas entrantes já estão estabelecidas, só são novidades na bolsa", avalia. 
Crise exige conservadorismo - na bolsa e no futebolSoma-se a isso o fato de estarmos em um momento de crise, tanto no mundo da economia quanto no futebol. Enquanto a Europa vê diversos problemas de dívidas com seus países periféricos e os Estados Unidos discutem sua política fiscal, a seleção brasileira atinge sua pior classificação da história nos rankings da Fifa - já que só joga amistosos até a Copa do Mundo. "Em um cenário desses, tanto o investidor quanto o Felipão procuram ser mais conservadores", salienta o analista da Amaril Franklin.  
E a pressão inerente nos dois mundos é bastante prejudicial para o desconhecido, levando à uma aposta para o que já se conhece, empresas grandes, com grandes fluxos de informação e previsibilidade de resultados, as famosas defensivas. "O Neymar vem se destacando, mas ninguém conhece ele em uma Copa do Mundo, haverá muita pressão psicológica pelo fato do torneio ser aqui e o investidor também age assim, no meio da crise", afirma Machado.
Ele destaca que empresas novas podem ser menos arriscadas em um ambiente de crise - mas, pelo fato de quase ninguém conhecê-las direito, acaba gerando saídas até mais agressivas de investidores. "Uma empresa recém chegada no mercado tem maior agilidade, na mudança de rumo, o mais prudente é o investidor estudar a fundo, não ter preconceitos sobre o porte da empresa", aponta. 
Na hora de investir, deixe a paixão de ladoPara o analista da Amaril, o ideal é deixar a emoção de lado na hora de investir - e guardá-la para discussões de futebol. "Foi uma péssima convocação, mesmo sendo atleticano (time de Ronaldinho), acho que ele deveria ter chamado o Kaká, se é para convocar um jogador mais velho para servir de exemplo. Ele é mais centrado, não se envolve em polêmica, não está na farra", finaliza o analista. 
Felipe Moreno www.infomoney.com.br/


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