Casais que constroem lucros com suas empresas
Em meu livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, discuto a importância do papo aberto sobre dinheiro e da convergência de planos e objetivos do casal para que possam conquistar um futuro mais rico e financeiramente sólido. Este assunto vem gerando muito debate: idéias simples foram apresentadas e a sociedade vem mudando hábitos com o objetivo de criar um Brasil mais rico dentro de alguns anos. Boa parte de meus objetivos iniciais com aquele livro foram alcançados.
Mas há um tema ainda mal resolvido no mundo empresarial global que, em muitos casos, envolve também casais desesperados por soluções: a gestão de empresas familiares. Muitas empresas brasileiras começam a partir do empreendimento de uma família que resolveu se desprender das limitações impostas por uma forma de escravidão chamada emprego. Com muita vontade, determinação, às vezes pouco conhecimento e em geral com toda poupança disponível, aquela que se mostra como a alternativa de investimento de maior risco do mercado – o negócio próprio – passa a compor 100% da carteira de investimentos de uma família.
Não são raros os casos de chefes de família que me consultam em busca de orientação financeira, em que a totalidade dos recursos poupados ao longo de uma vida estão investidos em uma empresa cujos sócios são apenas marido e mulher. Clínicas médicas ou odontológicas, pet shops, clínicas de estética, pequenas indústrias, comércios em geral e diversas formas de pirâmide conhecidas (independentemente do nome que levem) compõem a maior parte dos casos. Há exemplos de empresas que conquistaram seu lugar de sucesso e hoje atendem a uma fatia significativa de um mercado regional ou são respeitáveis exportadoras. Bravo! Não há nada errado em investir maciçamente em um negócio, principalmente se houver um bom planejamento por trás deste investimento. Também não há nada errado em concentrar investimentos em uma alternativa de maior risco, desde que se administre bem este risco. Para quem não concorda que uma empresa é um investimento de risco, basta analisar as estatísticas: mais de 70% das empresas fecham as portas antes de cinco anos de existência. Você conhece outros investimentos em que a maioria dos investidores perde seu capital? Mas, risco não se evita, risco se administra, e é por isso que aqueles que sabem administrar ganham muito dinheiro com suas empresas!
A questão é: se cuidar do orçamento familiar já é difícil quando apenas um dos membros do casal trabalha ou quando ambos trabalham em atividades diferentes, o que dizer de casos em que ambos têm que compartilhar decisões sobre trabalho, investimentos na empresa, investimentos no lar, gastos da empresa e gastos pessoais? Conciliar sonhos e desejos de consumo já é difícil quando cada um é responsável por parte da renda, mas e quando ambos são responsáveis por determinar qual será a renda comum? Certamente, o potencial de atritos e discussões se multiplica quando intimidade e profissão se misturam. Por isso, o sucesso de uma empresa familiar depende de algumas regras claramente estabelecidas, cujo objetivo é separar a vida pessoal da vida empresarial.
A regra número um é efetivamente separar os planos para a vida pessoal dos planos para a vida familiar. Não concordo com aqueles que afirmam que trabalho e lazer são uma coisa única, que a vida pessoal deve se misturar com o dia-a-dia do trabalho; isto não passa de clichês de milionários americanos como Donald Trump, que morrerão à mesa de seu escritório. É preciso equilibrar o tempo para o trabalho com o tempo para a convivência familiar e social, para que planos pessoais não se confundam com planos empresariais. Afinal, se um dia surgir uma proposta de venda de sua empresa para um grande grupo empresarial, sua vida estará encerrada? A independência financeira (ou boa parte dela) já pode ser considerada como atingida para aqueles que conduzem seu próprio negócio, pois seu futuro está em suas mãos – não nas mãos de um empregador. Mas é importante dedicar tempo, dinheiro e idéias a projetos de educação dos filhos, viagens, formação pessoal, novos investimentos, família e amigos. Afinal, esta será nossa vida após o trabalho.
Outra regra fundamental para o sucesso do negócio é separar os números. A contabilidade da empresa é uma, a contabilidade pessoal é outra. É um grave erro pagar contas pessoais com cheques da empresa, usar equipamentos de casa para atividades de trabalho e, principalmente, desprezar o potencial de informações importantes que seu contador pode lhe prestar. Misturar as contas pode ser uma alternativa aceitável nos momentos iniciais do empreendimento, enquanto se estrutura a contabilidade e se organiza e adapta o orçamento dos primeiros dois anos (muitas previsões devem ser revistas nos primeiros meses). Depois desta fase inicial, é fundamental aprender sobre finanças gerenciais e explorar ao máximo as ricas informações que a contabilidade nos apresenta. Assim como é igualmente importante construir um orçamento familiar independente, que tenha como fonte de renda apenas pro labore e lucros, sem com pagamentos de contas através da empresa, para que sonhos não sejam frustrados no médio prazo. Concordo que a separação total de contas certamente custará mais caro em impostos neste nosso injusto Brasil, mas este saudável procedimento evitará futuras desilusões geradas a partir de lucros irreais. A conseqüência negativa mais imediata da prática de misturar as contas é o superdimensionamento do lucro. Lucros reais geralmente são inferiores à geração de caixa da empresa, pois alguns custos ocultos (como a depreciação e o diferimento de impostos) aparecerão apenas na contabilidade, mesmo sendo importantíssimos para a sobrevivência da empresa.
A terceira regra de ouro para o sucesso familiar é a impessoalidade na gestão. As decisões não devem ser afetadas pelos altos e baixos comuns a qualquer relacionamento pessoal. Por isso, é fundamental a presença do “agente neutro” nas tomadas de decisões. Caso a estrutura da empresa comporte um gerente geral, o ideal é que esta pessoa seja um administrador profissional e que não faça parte da família. Caso a estrutura não comporte ou então se o organograma da empresa já tiver grande similaridade com a árvore genealógica da família, não há alternativa a não ser a consulta regular a um conselheiro ou consultor estratégico com ampla experiência e pró-atividade. Deve-se profissionalizar a tomada de decisão na empresa, passando a orientar os negócios com base em critérios de negócios, não em melindres familiares – como geralmente acontece.
Finalmente, a quarta regra para o sucesso: sejam honestos. A indisciplina financeira e menor burocracia comuns às empresas familiares cria o ambiente ideal para possíveis “simplificações” tributárias: vendas sem emissão de notas, redução de lucros com o pagamento de contas pessoais com dinheiro da empresa, distribuição de lucros em dinheiro para pagar menos CPMF e uso dos instrumentos contábeis por mera formalidade fiscal são algumas das ações que fazem da economia brasileira uma nação de foras-da-lei. A má gestão governamental vem trazendo os empresários para a informalidade, isto é fato. Mas já testemunhei o desmoronamento de grandes impérios – familiares ou não – após a aplicação de severas punições decorrentes de sonegação fiscal. Algumas indústrias são compostas apenas por sobreviventes de “chacinas tributárias”: como na natureza, venceram os mais fortes,os mais preparados – provavelmente, os mais bem organizados. O avanço tecnológico dos órgãos de arrecadação de impostos vem dizimando empresas com multas e sanções diversas. Sempre que exponho esta opinião, sou questionado sobre a viabilidade de se desenvolver qualquer atividade no Brasil de forma competitiva. Sou obrigado a reconhecer que a alta carga tributária limita sensivelmente o crescimento do mercado, mas temos que usar nossa criatividade principalmente para lutar contra essa ineficiência governamental que supostamente nos atende. O governo deveria trabalhar para a população, e não contrário, como acontece no Brasil. Mas a mudança depende mais de nós do que deles.
Resumindo, quatro regras devem ser seguidas por todo empresário, mas com carinho especial pelos sócios de empresas familiares:
1) Separação entre planos da empresa e planos familiares;
2) Separação entre finanças da empresa e finanças da família;
3) Profissionalização da gestão;
4) Honestidade no cumprimento das obrigações.
O sucesso financeiro empresarial é atingido com um planejamento eficiente, transparência e boa comunicação. O mesmo vale para as famílias, e é importante diferenciar a família da empresa. Seguir estas regras de ouro é um passo fundamental para o sucesso financeiro do casal empreendendor.
Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e professor da Fundação Instituto de Administração, sócio-diretor da Cerbasi & Associados Planejamento Financeiro e autor dos livros Dinheiro – Os segredos de quem tem e Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, ambos pela Editora Gente.
Em meu livro Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, discuto a importância do papo aberto sobre dinheiro e da convergência de planos e objetivos do casal para que possam conquistar um futuro mais rico e financeiramente sólido. Este assunto vem gerando muito debate: idéias simples foram apresentadas e a sociedade vem mudando hábitos com o objetivo de criar um Brasil mais rico dentro de alguns anos. Boa parte de meus objetivos iniciais com aquele livro foram alcançados.
Mas há um tema ainda mal resolvido no mundo empresarial global que, em muitos casos, envolve também casais desesperados por soluções: a gestão de empresas familiares. Muitas empresas brasileiras começam a partir do empreendimento de uma família que resolveu se desprender das limitações impostas por uma forma de escravidão chamada emprego. Com muita vontade, determinação, às vezes pouco conhecimento e em geral com toda poupança disponível, aquela que se mostra como a alternativa de investimento de maior risco do mercado – o negócio próprio – passa a compor 100% da carteira de investimentos de uma família.
Não são raros os casos de chefes de família que me consultam em busca de orientação financeira, em que a totalidade dos recursos poupados ao longo de uma vida estão investidos em uma empresa cujos sócios são apenas marido e mulher. Clínicas médicas ou odontológicas, pet shops, clínicas de estética, pequenas indústrias, comércios em geral e diversas formas de pirâmide conhecidas (independentemente do nome que levem) compõem a maior parte dos casos. Há exemplos de empresas que conquistaram seu lugar de sucesso e hoje atendem a uma fatia significativa de um mercado regional ou são respeitáveis exportadoras. Bravo! Não há nada errado em investir maciçamente em um negócio, principalmente se houver um bom planejamento por trás deste investimento. Também não há nada errado em concentrar investimentos em uma alternativa de maior risco, desde que se administre bem este risco. Para quem não concorda que uma empresa é um investimento de risco, basta analisar as estatísticas: mais de 70% das empresas fecham as portas antes de cinco anos de existência. Você conhece outros investimentos em que a maioria dos investidores perde seu capital? Mas, risco não se evita, risco se administra, e é por isso que aqueles que sabem administrar ganham muito dinheiro com suas empresas!
A questão é: se cuidar do orçamento familiar já é difícil quando apenas um dos membros do casal trabalha ou quando ambos trabalham em atividades diferentes, o que dizer de casos em que ambos têm que compartilhar decisões sobre trabalho, investimentos na empresa, investimentos no lar, gastos da empresa e gastos pessoais? Conciliar sonhos e desejos de consumo já é difícil quando cada um é responsável por parte da renda, mas e quando ambos são responsáveis por determinar qual será a renda comum? Certamente, o potencial de atritos e discussões se multiplica quando intimidade e profissão se misturam. Por isso, o sucesso de uma empresa familiar depende de algumas regras claramente estabelecidas, cujo objetivo é separar a vida pessoal da vida empresarial.
A regra número um é efetivamente separar os planos para a vida pessoal dos planos para a vida familiar. Não concordo com aqueles que afirmam que trabalho e lazer são uma coisa única, que a vida pessoal deve se misturar com o dia-a-dia do trabalho; isto não passa de clichês de milionários americanos como Donald Trump, que morrerão à mesa de seu escritório. É preciso equilibrar o tempo para o trabalho com o tempo para a convivência familiar e social, para que planos pessoais não se confundam com planos empresariais. Afinal, se um dia surgir uma proposta de venda de sua empresa para um grande grupo empresarial, sua vida estará encerrada? A independência financeira (ou boa parte dela) já pode ser considerada como atingida para aqueles que conduzem seu próprio negócio, pois seu futuro está em suas mãos – não nas mãos de um empregador. Mas é importante dedicar tempo, dinheiro e idéias a projetos de educação dos filhos, viagens, formação pessoal, novos investimentos, família e amigos. Afinal, esta será nossa vida após o trabalho.
Outra regra fundamental para o sucesso do negócio é separar os números. A contabilidade da empresa é uma, a contabilidade pessoal é outra. É um grave erro pagar contas pessoais com cheques da empresa, usar equipamentos de casa para atividades de trabalho e, principalmente, desprezar o potencial de informações importantes que seu contador pode lhe prestar. Misturar as contas pode ser uma alternativa aceitável nos momentos iniciais do empreendimento, enquanto se estrutura a contabilidade e se organiza e adapta o orçamento dos primeiros dois anos (muitas previsões devem ser revistas nos primeiros meses). Depois desta fase inicial, é fundamental aprender sobre finanças gerenciais e explorar ao máximo as ricas informações que a contabilidade nos apresenta. Assim como é igualmente importante construir um orçamento familiar independente, que tenha como fonte de renda apenas pro labore e lucros, sem com pagamentos de contas através da empresa, para que sonhos não sejam frustrados no médio prazo. Concordo que a separação total de contas certamente custará mais caro em impostos neste nosso injusto Brasil, mas este saudável procedimento evitará futuras desilusões geradas a partir de lucros irreais. A conseqüência negativa mais imediata da prática de misturar as contas é o superdimensionamento do lucro. Lucros reais geralmente são inferiores à geração de caixa da empresa, pois alguns custos ocultos (como a depreciação e o diferimento de impostos) aparecerão apenas na contabilidade, mesmo sendo importantíssimos para a sobrevivência da empresa.
A terceira regra de ouro para o sucesso familiar é a impessoalidade na gestão. As decisões não devem ser afetadas pelos altos e baixos comuns a qualquer relacionamento pessoal. Por isso, é fundamental a presença do “agente neutro” nas tomadas de decisões. Caso a estrutura da empresa comporte um gerente geral, o ideal é que esta pessoa seja um administrador profissional e que não faça parte da família. Caso a estrutura não comporte ou então se o organograma da empresa já tiver grande similaridade com a árvore genealógica da família, não há alternativa a não ser a consulta regular a um conselheiro ou consultor estratégico com ampla experiência e pró-atividade. Deve-se profissionalizar a tomada de decisão na empresa, passando a orientar os negócios com base em critérios de negócios, não em melindres familiares – como geralmente acontece.
Finalmente, a quarta regra para o sucesso: sejam honestos. A indisciplina financeira e menor burocracia comuns às empresas familiares cria o ambiente ideal para possíveis “simplificações” tributárias: vendas sem emissão de notas, redução de lucros com o pagamento de contas pessoais com dinheiro da empresa, distribuição de lucros em dinheiro para pagar menos CPMF e uso dos instrumentos contábeis por mera formalidade fiscal são algumas das ações que fazem da economia brasileira uma nação de foras-da-lei. A má gestão governamental vem trazendo os empresários para a informalidade, isto é fato. Mas já testemunhei o desmoronamento de grandes impérios – familiares ou não – após a aplicação de severas punições decorrentes de sonegação fiscal. Algumas indústrias são compostas apenas por sobreviventes de “chacinas tributárias”: como na natureza, venceram os mais fortes,os mais preparados – provavelmente, os mais bem organizados. O avanço tecnológico dos órgãos de arrecadação de impostos vem dizimando empresas com multas e sanções diversas. Sempre que exponho esta opinião, sou questionado sobre a viabilidade de se desenvolver qualquer atividade no Brasil de forma competitiva. Sou obrigado a reconhecer que a alta carga tributária limita sensivelmente o crescimento do mercado, mas temos que usar nossa criatividade principalmente para lutar contra essa ineficiência governamental que supostamente nos atende. O governo deveria trabalhar para a população, e não contrário, como acontece no Brasil. Mas a mudança depende mais de nós do que deles.
Resumindo, quatro regras devem ser seguidas por todo empresário, mas com carinho especial pelos sócios de empresas familiares:
1) Separação entre planos da empresa e planos familiares;
2) Separação entre finanças da empresa e finanças da família;
3) Profissionalização da gestão;
4) Honestidade no cumprimento das obrigações.
O sucesso financeiro empresarial é atingido com um planejamento eficiente, transparência e boa comunicação. O mesmo vale para as famílias, e é importante diferenciar a família da empresa. Seguir estas regras de ouro é um passo fundamental para o sucesso financeiro do casal empreendendor.
Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e professor da Fundação Instituto de Administração, sócio-diretor da Cerbasi & Associados Planejamento Financeiro e autor dos livros Dinheiro – Os segredos de quem tem e Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, ambos pela Editora Gente.
Publicado em: - 01-05-2005
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