Quem ganha o salário mínimo no Brasil é capaz de comprar apenas duas vezes por mês os itens que o Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos) usa como parâmetro da cesta básica do País. Nos Estados Unidos, o salário mínimo local permite adquirir quase seis vezes os mesmos produtos, segundo um levantamento feito por Alcides Leite*, colaborador do Radar Econômico.
Toda quarta-feira, este blog apresenta uma comparação de preços de produtos em diversos países. Desta vez, Leite inclui também a comparação dos salários mínimos e médios em sete nações, além do Brasil.
Aqui, o salário mínimo, de R$ 545, ou US$ 333, vale duas cestas, que saem por R$ 269, ou US$ 166, segundo o Dieese. Nos EUA, com um salário mínimo (US$ 1.160) é possível comprar no supermercado D’Agostino, em Nova York, todos os itens da cesta básica brasileira quase seis vezes.
Nesse tipo de comparação, a França foi, entre os países estudados, o que apresentou melhor situação. Com um salário mínimo, de US$ 1.950, compram-se mais de nove cestas básicas. O pior cenário é o do México, onde um salário compra apenas uma cesta.
Se considerado o salário médio da população, a melhor situação é a do Reino Unido, onde se compram quase 20 cestas. Nos EUA, o salário médio compra mais de 15; no Brasil, menos de 6; na Argentina, mais de 8.
Veja abaixo quantas cestas básicas (considerando sempre os itens padrões do Brasil) é possível comprar em cada país (em US$):
País | Preço cesta | Salário mínimo | Salário médio | Cesta/s. mínino | Cesta/s. médio |
Brasil / Dieese | 165,75 | 333,33 | 961,11 | 2,01 | 5,8 |
Brasil supermerc. | 156 | 333,33 | 961,11 | 2,14 | 6,16 |
Argentina | 124,86 | 450,98 | 1.029,41 | 3,61 | 8,24 |
Chile | 169,8 | 367,1 | 1.008,58 | 2,16 | 5,94 |
Uruguai | 148,47 | 256,63 | 628,98 | 1,73 | 4,24 |
México | 147,99 | 154,05 | 515,02 | 1,04 | 3,48 |
Estados Unidos | 198,58 | 1.160 | 3.148,76 | 5,84 | 15,86 |
França | 209,63 | 1.950 | 2.954,29 | 9,03 | 14,09 |
Reino Unido | 185,37 | 1.530,32 | 3.632,85 | 8,26 | 19,6 |
OBS: Supermercados utilizados: Sonda (São Paulo), Coto (Buenos Aires), Líder (Santiago), Devoto (Montevidéu), Superama (Cidade do México), D’Agostino (Nova York), Carrefour (Paris), Tesco (Londres). Fontes de salários: sites de institutos de estatísticas de cada país.
O economista Paulo Rabello de Castro** comenta os números:
“Apesar da carga tributária elevada, a cesta básica brasileira é bastante competitiva, comparando com outros países da lista. Em valores, só perde para a Argentina e empata com o Chile, por exemplo.O agronegócio brasileiro, que, a despeito de enfrentar fatores adversos como logística cara, desperdício em embarques e desembarques, dificuldade de recuperação do crédito tributário, dupla tributação em diferentes momentos da cadeia produtiva, preço elevado de energia elétrica e alto custo financeiro, com maiores juros do mundo, é bastante competitivo. Esse conjunto de dificuldades estruturais, chamado custo Brasil, pesa muito na hora em que o agricultor tira o produto do campo. Ele é obrigado a ter sucesso da porta para dentro para compensar os problemas da porta para fora.O produtor e a família brasileira seriam beneficiados com uma carga tributária mais racional. O produto seria embarcado por um preço menor, impactando positivamente as receitas das exportações e o saldo comercial. Já o rendimento das famílias também seria maior, com consequente aumento do poder de compra.”
* Alcides Leite é professor de economia na Trevisan Escola de Negócios e analista-inspetor concursado do Banco Central. Autor de “Brasil, a trajetória de um país forte”.
** Paulo Rabello de Castro é coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), que reúne mais de 80 entidades empresariais em defesa da simplificação fiscal e maior eficiência nos gastos públicos. Recentemente, lançou campanha pela subscrição de abaixo-assinado, no site www.brasileficiente.org.br, que pretende recolher 1 milhão de assinaturas para transformar em projeto de lei suas propostas.
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