Carteirada no mercado - Gustavo Cerbasi

Na semana passada tivemos mais um triste episódio de interferência do governo em uma empresa pública, com a imposição ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal de uma política de redução forçada de juros.

Os interesses do governo são louváveis, afinal o objetivo é estimular o crédito para o consumo e para a produção interna, trazendo como consequência o aquecimento da economia. Para sustentar o crescimento equilibrado, cabe ao governo contar com todas as ferramentas disponíveis, incluindo a desoneração fiscal, o corte de gastos e – por que não? – seu poder de decisão como acionista-mor das empresas públicas.


Porém, os interesses nacionais deixam de ter propósito quando objetivos de curto prazo – aquecimento temporário da economia – atropelam regras de credibilidade e de equilíbrio do mercado que são construídas no longo prazo.
BB e CEF são instituições que sempre estabeleceram suas políticas de acordo com interesses políticos. Consequentemente, supõe-se que as políticas de crédito adotadas até então já vinham atendendo, em situação limítrofe, aos interesses de aquecimento da economia.

Mas, ao forçar o preço do crédito para níveis abaixo do equilíbrio saudável a essas empresas, a interferência governamental afeta não apenas as contas dos dois bancos de propriedade da União. Sendo o Banco do Brasil uma empresa de capital aberto, são afetados também investidores que, até então, acreditavam que a gestão guiaria suas decisões no sentido de priorizar o crescimento dos resultados e da capacidade de crescimento.

Definir uma política de negócios com base na expansão de mercado e não de resultados é caminho certo para a deterioração da saúde de uma empresa. Isso explica por que as ações do BB caíram quase 6% no dia do anúncio das medidas. A interferência do governo Dilma reitera uma prática antiga no país, que nos últimos anos afetou significativamente os resultados e os investimentos de empresas como Petrobras, Infraero, Correios e Furnas, entre outras, e que gerou como consequência de longo prazo a desconfiança de investidores e da população quanto à sustentabilidade das medidas.

Investidores de qualquer lugar no mundo sabem que, ao investir em uma empresa pública brasileira, correm o risco de ter parte do lucro tomado pelo governo para cobrir um rombo no INSS ou de ter preços manipulados para incentivar políticas de curto prazo. A imposição de preços irreais para o crédito não é diferente do que tem sido feito com o preço dos combustíveis. Enquanto a Petrobras funciona à margem das regras de mercado, sua credibilidade é questionada e a dificuldade para captar recursos aumenta, limitando investimentos e, consequentemente, o crescimento da empresa e do preço de suas ações.

Fossem as empresas públicas mais confiáveis e menos manipuladas, seria mais fácil expandir suas atividades e diminuir o custo de financiamento dessa expansão. Isso poderia ser feito com aumento do capital em Bolsa. O que muitos chamam de privatização é, na verdade, um jogo de confiança na criação de resultados sustentáveis.

Existem outros mecanismos para interferir na economia sem quebrar regras de mercado. Por exemplo, se o governo crê que o crédito não cresce porque a concorrência é entre poucos e esses poucos cobram muito, poderia facilitar a concorrência e, com políticas mais flexíveis, permitir o crescimento de bancos menores ou a entrada no país de mais bancos estrangeiros.

Poderia também acelerar a reforma fiscal e aumentar a arrecadação com maior atividade na economia, mesmo que cobrando alíquotas menores de impostos. Como se diz no meio empresarial, ganhando no giro e não na margem.
Essas interferências que surpreendem o mercado nada mais são do que o resultado da incapacidade de planejar a longo prazo. Enquanto o horizonte máximo de planejamento público continuar sendo a próxima eleição, governar continuará sendo sinônimo de apagar incêndios e de manipular regras. Afinal, no Brasil, somos pródigos em esquecer, com o tempo, as grandes bobagens que são feitas no presente.
Gustavo Cerbasi (www.maisdinheiro.com.br) é consultor financeiro e autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Ed. Gente), Como Organizar sua Vida Financeira (Elsevier Campus) e Pais Inteligentes Emriquecem seus Filhos (Ed. Sextante).


Livros de Gustavo Cerbasi:

Gustavo Cerbasi : Cartas a um Investimentos Inteligentes Pais Inteligentes Enriquecem Seus Filhos
Finanças para Empreendedores e Profissionais Não Mais Tempo, Mais Dinheiro Dinheiro: os Segredos de Quem Tem
Cartas a um Jovem Investidor - Como Organizar sua Vida Financeira Investimentos Inteligentes: Guia de Estudo




O portal oferece um vasto material para estudos e seminários, Assine e fique informado!!!

Receba artigos por E-mail:




Você gostou deste artigo? Compartilhe:
TwitterDeliciousFacebookDiggStumbleuponFavoritesMore

0 comentários: