Finanças: Natal e decisões de consumo

O autor Mihaly Csikszenmihalyi, já citado noutro artigo deste blog, em um dos capítulos de seu livro Flow: the psychology of optimal experience, utiliza-se do caso de uma ave de nome científico Cistothorus palustris, para explicar como fatores extrínsecos podem afetar nossas escolhas.
O macho dessa espécie, em Washington, apresenta um comportamento poligâmico, enquanto na Geórgia a monogamia prevalece. E a pergunta que surge é: o que levaria animais da mesma espécie possuir comportamentos distintos nessas duas regiões? A explicação oferecida por Mihaly é que em Washington o ambiente varia muito de qualidade, sendo as fêmeas atraídas por uma quantidade pequena de machos que possuem um território seguro e rico em alimento – aqueles que dominam um território ruim, vivem uma vida celibatária. Já na Geórgia, o meio ambiente é muito mais homogêneo em termos de qualidade (segurança e alimentos), o que possibilita que cada macho possa atrair uma única parceira, oferecendo o mesmo “conforto” dos demais.
 
O que podemos notar, nesse caso, é que a forma como tais aves escolhem seus parceiros é fortemente influenciada por uma pressão ambiental, ou seja, pelos chamados fatores extrínsecos. E esse conceito pode ser extrapolado para nossas vidas pessoais, pois as escolhas que fazemos acabam sofrendo forte influência do ambiente que nos rodeia (cultura, religião, família, leis etc).
Em época de Natal, é possível verificar como esses fatores extrínsecos afetam sobremaneira as decisões dos consumidores. Existe quase que uma “obrigação social” em presentear aos outros, mesmo que as finanças pessoais estejam à beira de uma bancarrota. As lojas ficam lotadas, as campanhas de marketing mexem com o lado emocional eficientemente, e as pessoas saem às compras desenfreadamente, já iniciando 2013 endividadas.
 
Todavia, a questão mais importante não deveria ser se é certo ou errado esse consumismo exacerbado em época natalina, mas sim se há um motivo realmente genuíno no ato de presentear. O que estou querendo dizer é que a decisão de consumo deveria levar em consideração, principalmente, os fatores intrínsecos ao indivíduo, o que significa expressar suas verdadeiras vontades e objetivos. Ao agir pelo “é natural dar presentes no Natal”, não se atinge o estágio de deleite, mas apenas a efemeridade do prazer.
 
Gostaria de deixar claro que não estou fazendo uma apologia contra a festa natalina. Minha crítica está na forma como muitas pessoas agem nessa época do ano, consumindo muito mais que seu orçamento doméstico permite, guiadas por influências mercadológicas e “culturais”. Para sair desse ciclo prejudicial às finanças, seria necessário desviar o foco desses fatores externos e olhar um pouco mais para si, refletir sobre seus valores, princípios, prioridades e objetivos. Certamente, com uma visão mais profunda sobre o ser humano que somos, nossos hábitos e, por consequência, nossas escolhas, trarão momentos muito mais felizes e duradouros que apenas um embrulho bonito e uma momentânea sensação de felicidade.
Boas festas a todos e em 2013 estaremos juntos novamente.

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Sobre o Autor
O Professor Elisson de Andrade é formado em Engenharia Agronômica pela ESALQ-USP (1996-2000) e bacharel em Direito pela UNIMEP (2003-2007). Em nível de pós-graduação, é Mestre e Doutorando em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (ESALQ-USP), tendo sido agraciado com o Prêmio BM&F de Melhor Dissertação/Tese sobre Derivativos, no ano de 2004. Professor de ensino superior em cursos de graduação e pós-graduação, nas áreas de matemática financeira, mercado de capitais, derivativos e finanças pessoais, possui larga experiência no ensino de Educação Financeira.

 



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